quinta-feira, 29 de março de 2012
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Ela tinha 16 cartões de crédito. Hoje, ensina educação financeira
Há três anos, a servidora pública Alexandra Rufino, aos 33 anos, saiu
do banco com uma enorme dívida para pagar em oito anos. Apesar de sua
situação não ser nada boa, ela estava feliz, pois era bem melhor do que a
anterior. Duas semanas antes, ela tinha 16 cartões de crédito e vinha
pagando o mínimo da fatura de todos eles há pelo menos cinco anos.
Além das dívidas nos cartões, ela tinha em mãos também alguns boletos de compras de produtos ou serviços que havia parcelado. “Eu já não tinha mais crédito nos cartões, então dividia os pagamentos da forma que era possível." Ao parcelar suas compras e pagar o mínimo do cartão de crédito, Alexandra pagava altíssimos juros sobre o dinheiro que gastava. Além de pagar uma taxa às lojas para poder dividir o pagamento de suas compras em várias vezes, também pagava os encargos pelo crédito dos cartões.
LEIA TAMBÉM: Pagou uma Tucson, mas levou um Uno? Veja quanto custa parcelar
“Hoje tenho apenas um cartão e pago a fatura inteira todos os meses,” afirma, orgulhosa. A dívida no banco, porém, foi negociada a um juro de pouco mais de 2% ao mês e ainda pesará em seu orçamento por mais sete anos, até 2019. “Consegui uma taxa bem menor do que a que eu pagava nos cartões,” diz.
O estímulo para mudar de vida veio dela mesma. "Minha dívida era mais do que duas vezes maior do que o meu salário, e eu ainda tinha que pagar as contas básicas. Um dia parei e pensei, 'preciso me controlar'. Eu tinha que dar um jeito. Então comecei a procurar informação na internet e no Procon," afirma.
Para Jurandir Macedo, consultor do Instituto de Educação Financeira, Alexandra é uma entre milhares de brasileiros que se endividam por não terem conhecimentos sobre educação financeira e cederem aos apelos das lojas. “Ela é uma vítima em um País em que a educação financeira está apenas começando,”diz.
Segundo ele, o fato de o Brasil ter enfrentado muitos anos de altíssima inflação retardou o desenvolvimento da educação financeira, já que as pessoas não tinham preocupação em poupar, mas sim em estocar produtos.
Veja também: Estou endividado. E agora?
Dez sinais de que você perdeu o controle sobre suas dívidas
Além da questão histórica, há ainda um componente cultural por trás do endividamento brasileiro, que é a “cultura do imediatismo”, diz Wilson Muller, consultor financeiro da Fundação Cesp. Enquanto em outros países os cidadãos têm mania de poupança, os brasileiros são mais impacientes para poupar e para esperar para comprar à vista, diz o especialista.
“É mais natural, para os brasileiros, pensar se a parcela cabe ou não no bolso, ao invés de pensar em quantos meses o produto poderia ser pago à vista, o que evitaria o endividamento,” diz Muller. Nos cálculos do especialista, se um consumidor esperasse apenas 18 meses, poderia comprar à vista uma geladeira, um tablet ou um televisor de LED com uma economia de cerca de 21%. Veja outras comparações no INFOGRÁFICO.
Além dos motivos histórico e cultural, o aumento da oferta de crédito e o estímulo ao consumo também contribuem para o endividamento dos brasileiros. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 44% das famílias brasileiras se declararam endividadas em dezembro do ano passado. Em 2011, o crédito concedido pelos bancos brasileiros cresceu entre 15% e 20%.
E o valor das dívidas, segundo levantamento da Serasa Experian, está aumentando. Fora dos bancos, os brasileiros devem em média R$ 657,92 em janeiro deste ano em cartões de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços como telefonia e fornecimento de energia elétrica e água. O número é 65,7% acima dos R$ 396,77 de janeiro do ano passado.
LEIA MAIS: Eles vieram de famílias de classe média baixa e hoje têm R$ 1 milhão no banco
Para não engrossar essas estatísticas, a principal orientação de especialistas é que o consumidor use o cheque especial apenas para emergências. “Se ele tiver um infortúnio, pode pegar um crédito no banco. Mas assim que passado o problema, ele deve correr para o banco para quitar sua dívida ou renegociar a uma taxa mais baixa,” diz Macedo. O mesmo vale para o cartão de crédito. “Estas situações devem ser exceção, não hábito,” diz.
A dica de Muller é que o endividado não busque ajuda apenas quando a situação estiver muito ruim. “Nós, brasileiros, tendemos a só melhorar a alimentação quando o colesterol está no alto. Quando recebemos pedidos de pessoas que querem falar sobre suas finanças, elas já estão tecnicamente falidas e resta apenas renegociar a dívida,” afirma.
Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade do Itau Unibanco, concorda. Ela destaca a importância da busca de educação financeira a qualquer momento, o que pode levar o endividado a mudar seu comportamento e ter uma vida financeira mais saudável. “Todos os dias tomamos dezenas de decisões financeiras, mesmo sem perceber, e a orientação pode dar habilidade aos brasileiros de gerir suas escolhas,” afirma.
Dicas de Alexandra
Alexandra, que transformou sua vida ao decidir sozinha a parar de se endividar, sugere um bom controle sobre os gastos, inclusive os pequenos. “Eu era muito consumista. Gastava com pequenas coisas o tempo inteiro e não colocava no orçamento,” diz. Ela diz que que tudo deve ser anotado. “Quando relacionamos o que gastamos, não devemos incluir apenas o básico. Tem que entrar também o sorvete, a bolacha e a bala que compramos na rua,” afirma.
Ela também diz que o que mudou sua vida foi a decisão de ter apenas um cartão de crédito. “Não adianta ficar sem nenhum, porque podemos precisar, mas acho que o ideal é ter um só,“ afirma. “Quando temos muitos, fica fácil de se perder no meio das contas. Além disso, quanto mais você gasta, mais as empresas aumentam seu limite,” afirma.
A busca de uma ajuda profissional também animou a servidora a deixar de ser consumista. “É bom passar por uma psicóloga. Eu fiz isso. Tive força de vontade e busquei um tratamento. Aprendi que eu tinha um distúrbio de ansiedade e hoje consigo controlá-lo,” diz.
Hoje, Alexandra faz cursos de educação financeira para se manter atualizada e para dar orientações para familiares e amigos. “Quero ajudar meus sobrinhos, que gostam de gastar,” diz, ao final de uma palestra de educação financeira oferecida gratuitamente pelo Procon-SP, em São Paulo.
http://economia.ig.com.br/financas/meubolso/ela-tinha-16-cartoes-de-credito-hoje-ensina-educacao-financeira/n1597622239571.html
Além das dívidas nos cartões, ela tinha em mãos também alguns boletos de compras de produtos ou serviços que havia parcelado. “Eu já não tinha mais crédito nos cartões, então dividia os pagamentos da forma que era possível." Ao parcelar suas compras e pagar o mínimo do cartão de crédito, Alexandra pagava altíssimos juros sobre o dinheiro que gastava. Além de pagar uma taxa às lojas para poder dividir o pagamento de suas compras em várias vezes, também pagava os encargos pelo crédito dos cartões.
Foto: Greg Salibian
Alexandra Rufino, 36 anos: "um dia parei e pensei, 'preciso me controlar', e fui buscar informações na internet e no Procon"
“Hoje tenho apenas um cartão e pago a fatura inteira todos os meses,” afirma, orgulhosa. A dívida no banco, porém, foi negociada a um juro de pouco mais de 2% ao mês e ainda pesará em seu orçamento por mais sete anos, até 2019. “Consegui uma taxa bem menor do que a que eu pagava nos cartões,” diz.
O estímulo para mudar de vida veio dela mesma. "Minha dívida era mais do que duas vezes maior do que o meu salário, e eu ainda tinha que pagar as contas básicas. Um dia parei e pensei, 'preciso me controlar'. Eu tinha que dar um jeito. Então comecei a procurar informação na internet e no Procon," afirma.
Para Jurandir Macedo, consultor do Instituto de Educação Financeira, Alexandra é uma entre milhares de brasileiros que se endividam por não terem conhecimentos sobre educação financeira e cederem aos apelos das lojas. “Ela é uma vítima em um País em que a educação financeira está apenas começando,”diz.
Segundo ele, o fato de o Brasil ter enfrentado muitos anos de altíssima inflação retardou o desenvolvimento da educação financeira, já que as pessoas não tinham preocupação em poupar, mas sim em estocar produtos.
Veja também: Estou endividado. E agora?
Dez sinais de que você perdeu o controle sobre suas dívidas
Além da questão histórica, há ainda um componente cultural por trás do endividamento brasileiro, que é a “cultura do imediatismo”, diz Wilson Muller, consultor financeiro da Fundação Cesp. Enquanto em outros países os cidadãos têm mania de poupança, os brasileiros são mais impacientes para poupar e para esperar para comprar à vista, diz o especialista.
“É mais natural, para os brasileiros, pensar se a parcela cabe ou não no bolso, ao invés de pensar em quantos meses o produto poderia ser pago à vista, o que evitaria o endividamento,” diz Muller. Nos cálculos do especialista, se um consumidor esperasse apenas 18 meses, poderia comprar à vista uma geladeira, um tablet ou um televisor de LED com uma economia de cerca de 21%. Veja outras comparações no INFOGRÁFICO.
Além dos motivos histórico e cultural, o aumento da oferta de crédito e o estímulo ao consumo também contribuem para o endividamento dos brasileiros. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 44% das famílias brasileiras se declararam endividadas em dezembro do ano passado. Em 2011, o crédito concedido pelos bancos brasileiros cresceu entre 15% e 20%.
E o valor das dívidas, segundo levantamento da Serasa Experian, está aumentando. Fora dos bancos, os brasileiros devem em média R$ 657,92 em janeiro deste ano em cartões de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços como telefonia e fornecimento de energia elétrica e água. O número é 65,7% acima dos R$ 396,77 de janeiro do ano passado.
LEIA MAIS: Eles vieram de famílias de classe média baixa e hoje têm R$ 1 milhão no banco
Para não engrossar essas estatísticas, a principal orientação de especialistas é que o consumidor use o cheque especial apenas para emergências. “Se ele tiver um infortúnio, pode pegar um crédito no banco. Mas assim que passado o problema, ele deve correr para o banco para quitar sua dívida ou renegociar a uma taxa mais baixa,” diz Macedo. O mesmo vale para o cartão de crédito. “Estas situações devem ser exceção, não hábito,” diz.
A dica de Muller é que o endividado não busque ajuda apenas quando a situação estiver muito ruim. “Nós, brasileiros, tendemos a só melhorar a alimentação quando o colesterol está no alto. Quando recebemos pedidos de pessoas que querem falar sobre suas finanças, elas já estão tecnicamente falidas e resta apenas renegociar a dívida,” afirma.
Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade do Itau Unibanco, concorda. Ela destaca a importância da busca de educação financeira a qualquer momento, o que pode levar o endividado a mudar seu comportamento e ter uma vida financeira mais saudável. “Todos os dias tomamos dezenas de decisões financeiras, mesmo sem perceber, e a orientação pode dar habilidade aos brasileiros de gerir suas escolhas,” afirma.
Dicas de Alexandra
Alexandra, que transformou sua vida ao decidir sozinha a parar de se endividar, sugere um bom controle sobre os gastos, inclusive os pequenos. “Eu era muito consumista. Gastava com pequenas coisas o tempo inteiro e não colocava no orçamento,” diz. Ela diz que que tudo deve ser anotado. “Quando relacionamos o que gastamos, não devemos incluir apenas o básico. Tem que entrar também o sorvete, a bolacha e a bala que compramos na rua,” afirma.
Ela também diz que o que mudou sua vida foi a decisão de ter apenas um cartão de crédito. “Não adianta ficar sem nenhum, porque podemos precisar, mas acho que o ideal é ter um só,“ afirma. “Quando temos muitos, fica fácil de se perder no meio das contas. Além disso, quanto mais você gasta, mais as empresas aumentam seu limite,” afirma.
A busca de uma ajuda profissional também animou a servidora a deixar de ser consumista. “É bom passar por uma psicóloga. Eu fiz isso. Tive força de vontade e busquei um tratamento. Aprendi que eu tinha um distúrbio de ansiedade e hoje consigo controlá-lo,” diz.
Hoje, Alexandra faz cursos de educação financeira para se manter atualizada e para dar orientações para familiares e amigos. “Quero ajudar meus sobrinhos, que gostam de gastar,” diz, ao final de uma palestra de educação financeira oferecida gratuitamente pelo Procon-SP, em São Paulo.
http://economia.ig.com.br/financas/meubolso/ela-tinha-16-cartoes-de-credito-hoje-ensina-educacao-financeira/n1597622239571.html
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